Novo estudo do projeto Amazônia 2030 e CPI/PUC-Rio mostra que restaurar áreas desmatadas pode impulsionar a economia e proteger a floresta
Desenvolvido a partir de um mecanismo criado pelo CPI/PUC-Rio, o novo estudo implementa o Mecanismo de Reversão de Desmatamento (RDM) para restaurar florestas em escala na Amazônia.
O RDM foi originalmente concebido após convocação do presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, ara um conselho de economistas que contribuísse com as dimensões econômicas da conferência, incluindo o “Roteiro de Baku a Belém para 1,3T” e a Agenda de Ação da COP30.
A nova análise mostra que o mecanismo poderia gerar US$ 784 bilhões em 30 anos e capturar até 26 gigatoneladas de CO₂ para a Amazônia brasileira, considerando um preço de US$50 por tonelada de CO2, transformando a restauração florestal em motor de desenvolvimento econômico e climático.
O RDM remunera toneladas líquidas de carbono recuperadas em áreas desmatadas criando novas oportunidades econômicas para a região amazônica e para o Brasil.
Na prática, governos subnacionais ou nacionais firmam acordos de venda de créditos de carbono com compradores públicos ou privados, com base em um preço previamente definido por tonelada de CO₂ removida da atmosfera. O volume de créditos é calculado a partir da restauração florestal líquida, ou seja, descontando eventuais emissões por novos desmatamentos, garantindo integridade ambiental. Os recursos arrecadados podem ser direcionados para conservação, pagamentos por serviços ambientais, modelos de restauração florestal ativa e políticas sociais, criando um ciclo econômico que financia a transição para um modelo de desenvolvimento de baixo carbono na Amazônia.
Segundo a análise, o Pará concentra o maior potencial de captura, 9,6 GtCO₂, com receita estimada em US$ 292 bilhões. Na sequência vêm Mato Grosso (7,3 GtCO₂; US$ 221 bilhões) e Rondônia (3,5 GtCO₂; US$ 106 bilhões). Estados com grandes estoques de floresta, como o Amazonas, são estratégicos para mecanismos de conservação. No total, 25,8 GtCO₂ poderiam ser removidos da atmosfera, com retornos financeiros equivalentes a quase 40% do PIB anual brasileiro.
“A COP30 representa uma oportunidade histórica de colocar as florestas no centro da solução climática global. O Brasil tem a chance de mostrar ao mundo que é possível conciliar desenvolvimento e conservação, oferecendo, por meio da restauração em larga escala, uma resposta concreta à crise do clima e um novo caminho econômico para a região amazônica”, diz Beto Veríssimo, Enviado Especial para Florestas da COP30.
Na Amazônia, grande parte das áreas mais adequadas para a produção agropecuária já foi desmatada no passado, enquanto as regiões com maior potencial de captura de carbono estão em outros territórios. Isso significa que é possível intensificar a produção em áreas consolidadas e, ao mesmo tempo, restaurar e conservar as áreas estratégicas para o clima, sem perda de produtividade. Em vez de serem atividades excludentes, produção agropecuária e restauração podem coexistir, gerando ganhos econômicos e ambientais simultaneamente. Ou seja, a agropecuária não precisa competir com a reversão do desmatamento.
“O RDM trata a regeneração florestal como um ativo econômico de alto valor, capaz de gerar receita e benefícios climáticos simultaneamente. Ao alinhar políticas e recursos financeiros, o mecanismo preenche uma lacuna central no financiamento da restauração em larga escala. Com isso, o Brasil tem a chance de se afirmar como líder climático global transformando a restauração da Amazônia em vetor de desenvolvimento e valorização de seu maior patrimônio natural: a floresta”, afirma Juliano Assunção, diretor executivo do CPI/PUC-Rio e um dos autores do estudo.
Um novo mecanismo financeiro para a floresta
O Mecanismo de Reversão de Desmatamento (RDM) remunera toneladas líquidas de carbono capturadas por restauração, com possibilidade de integração a mercados internacionais de carbono, incluindo os previstos no Artigo 6 do Acordo de Paris. Ele complementa mecanismos já existentes, como o Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal Jurisdicional (JREDD+), voltado à redução do desmatamento, e o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forest Forever Facility – TFFF), que remunera a manutenção da floresta em pé, criando uma arquitetura financeira mais completa, capaz de sustentar tanto proteção quanto restauração em larga escala.
Somados, os mecanismos representam uma oportunidade econômica sem precedentes: o JREDD+ poderia gerar cerca de US$ 5 bilhões, o TFFF cerca de US$ 26 bilhões, e o RDM até US$ 784 bilhões, ampliando de forma significativa a capacidade de financiar a proteção e a restauração da Amazônia.
Mas, como esse mecanismo funcionaria na prática?
O processo começa com a identificação das áreas a serem restauradas e a mensuração da captura líquida de carbono, descontando as emissões de desmatamento e degradação. A partir daí, esses resultados são convertidos em créditos de carbono, que podem ser negociados em mercados nacionais ou internacionais com preço previamente definido por tonelada de CO₂. A receita obtida entra em um fundo jurisdicional, que direciona recursos tanto para ações diretamente ligadas à restauração e conservação. Essa estrutura cria um ciclo financeiro virtuoso, no qual a restauração florestal gera receita, financia sua própria expansão e impulsiona o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Implementação do RDM
Fonte: CPI/PUC-Rio, 2025
O Brasil já possui a infraestrutura técnica e institucional necessária para implementar o RDM de forma rápida e eficaz. O país conta com sistemas avançados de monitoramento por satélite, como Deter, Prodes, MapBiomas e SAD/Imazon, que permitem acompanhar com precisão o desmatamento e a regeneração da vegetação. Dispõe também do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que viabiliza a vinculação de propriedades rurais ao monitoramento e à fiscalização ambiental. Além disso, tem experiência consolidada em mecanismos de pagamento por resultados, como o Fundo Amazônia e a Estratégia Nacional para REDD+, além de iniciativas subnacionais bem-sucedidas, como o Programa Territórios Sustentáveis, no Pará. Essa base técnica, legal e institucional cria condições concretas para operacionalizar o RDM em escala e com credibilidade internacional.
Acesse o estudo na íntegra: bit.ly/Nexo-Amazonia-Brasileira
Sobre o Climate Policy Initiative
O Climate Policy Initiative (CPI) é uma organização com experiência internacional em análise de políticas públicas e finanças, que possui sete escritórios ao redor do mundo. No Brasil, é afiliado à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e atua no aprimoramento de políticas públicas e finanças sustentáveis a fim de promover a transição para uma economia de baixo carbono. O CPI/PUC-Rio desenvolve análises baseadas em evidência e estabelece parcerias estratégicas com membros do governo, da sociedade civil, do setor privado e de instituições financeiras.
Sobre o Amazônia 2030
O Amazônia 2030 é uma iniciativa conjunta do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, em parceria com a Climate Policy Initiative (CPI) e o Departamento de Economia da PUC-Rio, conduzida por pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano de ações para a Amazônia. O objetivo é apontar caminhos para que a região dê um salto de desenvolvimento econômico e humano, mantendo a floresta em pé, nos próximos anos.
Mais informações:
Camila Calado Lima
camila.lima@cpiglobal.org
(86) 99966-0560