Setores de energia e AFOLU concentram recursos.
Com a COP 30 se aproximando, os debates sobre financiamento climático voltam ao centro das discussões. Após o compromisso anunciado na COP 29 de mobilizar US$ 300 bilhões até 2035 e as estimativas sobre a necessidade de mobilizar US$ 1,3 trilhão, cresce a expectativa para que países implementem ações concretas para impulsionar o financiamento do combate às mudanças climáticas.
Para contribuir com o debate, o Climate Policy Initiative/PUC-Rio apresenta um panorama inédito sobre o financiamento climático no Brasil no período de 2019 a 2023, incluindo fontes domésticas e internacionais. O estudo aponta que os fluxos destinados ao clima mais que dobraram desde 2019, alcançando US$ 67,8 bilhões em 2023. O pré-lançamento acontece hoje, 05, no evento “Shaping the Future of Climate Finance in Brazil”, em São Paulo como parte da pré-COP30.
“No Brasil, a mobilização de financiamento climático é crucial para atingir objetivos climáticos e de desenvolvimento do país, promover maior adaptação às mudanças climáticas e redução das vulnerabilidades socioeconômicas.”, diz Joana Chiavari, diretora de pesquisa do CPI/PUC-Rio.
O crescimento do financiamento climático no Brasil foi impulsionado especialmente pelos setores de energia e de Agropecuária, Florestas e Outros Usos da Terra (AFOLU) entre 2020/21 e 2022/23. O aumento do financiamento para sistemas de energia refletiu a forte expansão da energia solar, passando de US$ 9,5 bilhões no biênio 2020/21 para US$ 22,4 bilhões no biênio 2022/23.
No caso de AFOLU, o financiamento climático quase dobrou, passando de US$ 14,9 bilhões no biênio 2020/21 para US$ 28 bilhões no biênio 2022/23. O crescimento foi motivado pelo grande investimento em culturas sustentáveis, agrossilvicultura e pecuária. O crédito rural alinhado ao clima e equity foram os principais instrumentos financeiros (71%), refletindo a prevalência de AFOLU e energia.
O setor de florestas recebeu apenas 1% do total do financiamento climático, e o investimento caiu aproximadamente 6 vezes, passando de US$ 1,5 bilhão em 2019 para US$ 254 milhões em 2023.
“O baixo investimento no setor de florestas revela como o papel delas na agenda do clima ainda é uma oportunidade subaproveitada. Para avançar no combate às mudanças climáticas, as florestas precisam ser compreendidas como ativos centrais.”, afirma Juliano Assunção, diretor executivo do CPI/PUC-Rio.
De onde vem o dinheiro?
Fontes domésticas tanto públicas quanto privadas foram responsáveis por 90% do financiamento total mapeado entre 2019 e 2023.
Para Chiavari, “a proporção entre recursos domésticos e internacionais segue o padrão observado em outros países do BRICS, como Índia e África do Sul”.
Fontes privadas foram responsáveis por mais de 2/3 do total mapeado em 2022/23, somando US$ 45,1 bilhões. Dentre elas, destacam-se instituições financeiras comerciais (US$ 23,5 bilhões), domicílios/indivíduos (US$ 11,3 bilhões) e empresas (US$ 10,2 bilhões).
No caso do financiamento público, o governo federal e o BNDES foram as principais fontes, tendo fornecido ¾ do financiamento em 2022/23. Nesse biênio, o BNDES liderou o financiamento, desembolsando US$ 7,2 bilhões, predominantemente para empréstimos de baixo custo e crédito rural alinhado ao clima. O governo federal forneceu uma média de US$ 6,6 bilhões no mesmo período, dividido entre gastos públicos com o clima e crédito rural alinhado ao clima.
Entre 2019-2023, o governo federal mais que dobrou o financiamento para clima, alcançando US$ 7,0 bilhões em 2023. O crescimento foi impulsionado tanto por investimento específico em clima quanto pelo crédito rural alinhado ao clima.
“A proporção observada entre financiamento doméstico e internacional mostra o avanço na agenda do clima nacional e, ao mesmo tempo, a ausência de estruturas internacionais para lidar com a crise climática da maneira necessária. Um mundo que se preocupa com o clima deve investir no Brasil. Na ausência de ação internacional, grande parte da ação climática tem acontecido em nível nacional.”, explica Assunção.
Objetivos climáticos
O financiamento para mitigação climática representou 79% do total do financiamento climático, refletindo o grande predomínio dos investimentos em sistemas energéticos e agricultura sustentável. O financiamento para adaptação foi bastante inferior, apenas 7%.
Financiamento destinado a objetivos duplos somaram 11%, sendo a maioria para projetos de AFOLU e de água e saneamento. A maior parte dos investimentos do BNDES gerou benefícios climáticos duplos, mostrando sinergias no setor de água e saneamento entre mitigação (emissões de metano) e adaptação (acesso à água potável e saneamento).
Já o financiamento para perdas e danos, apesar de representar 3% do financiamento, aumentou exponencialmente durante o período analisado.
“Considerando os crescentes riscos climáticos enfrentados pelo Brasil e a incidência cada vez mais frequente de eventos climáticos extremos, observamos um investimento mínimo em adaptação climática. No caso de perdas e danos, observamos o custo da inação. Saímos de US$ 0,2 bilhão em 2019 para US$ 2,2 bilhões em 2023. E em 2024, em razão da catástrofe no Rio Grande do Sul, atingimos US$ 8,1 bilhões.”, destaca Assunção.
Este mapeamento pioneiro do financiamento climático no Brasil fornece uma linha de base para acompanhar os investimentos alinhados a objetivos climáticos nos próximos anos. O estudo parte da metodologia do CPI global que mapeia financiamento climático em todo mundo há mais de 10 anos. A versão completa do relatório será lançada após a COP 30.
“Mapear o financiamento climático é crucial para acompanhar as tendências de investimento, impulsionar a mobilização de recursos para áreas prioritárias e melhorar o direcionamento e a eficiência dos recursos existentes.”, conclui Chiavari.
🔗 Para saber mais, acesse: Landscape of Climate Finance in Brazil 2023
Sobre o Climate Policy Initiative
O Climate Policy Initiative (CPI) é uma organização com experiência internacional em análise de políticas públicas e finanças, que possui sete escritórios ao redor do mundo. No Brasil, é afiliado à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e atua no aprimoramento de políticas públicas e finanças sustentáveis a fim de promover a transição para uma economia de baixo carbono. O CPI/PUC-Rio desenvolve análises baseadas em evidência e estabelece parcerias estratégicas com membros do governo, da sociedade civil, do setor privado e de instituições financeiras.
Mais informações:
Camila Calado Lima
camila.lima@cpiglobal.org
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