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Mecanismo de financiamento desenvolvido pelo CPI/PUC-Rio pode impulsionar o papel das florestas na agenda do clima. 

  

A um mês da COP30, a COP das florestas, o Climate Policy Initiative/PUC-Rio publica novo estudo com mensagem clara: as florestas tropicais devem ser o centro das estratégias de clima. Pesquisadores propõem um mecanismo de financiamento inédito, o Mecanismo de Reversão de Desmatamento (Reversing Deforestation Mechanism – RDM), para impulsionar a restauração florestal em escala e transformar o papel das florestas na agenda do clima. O RDM pode gerar até US$ 100 bilhões em receitas anuais globais para países com florestas tropicais.  

O estudo do CPI/PUC-Rio surgiu a partir da convocação do presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, por um conselho de economistas que trouxesse informações sobre as dimensões econômicas da COP30, incluindo contribuições para o “Roteiro de Baku a Belém para 1,3T” e para a Agenda de Ação da COP30.   

“As florestas não são somente vulneráveis às mudanças do clima, elas são ativos indispensáveis para a luta climática. Os esforços internacionais para mitigação das mudanças climáticas têm sido insuficientes. As emissões globais continuam aumentando e, ainda que as NDCs atuais sejam implementadas, teremos um aumento de temperatura de 2,6°C a 2,8°C. Ou seja, ampliar a remoção de carbono da atmosfera é cada vez mais prioridade, e as florestas tropicais oferecem uma das ferramentas mais poderosas disponíveis.”, explica Juliano Assunção, diretor executivo do Climate Policy Initiative/PUC-Rio.   

Para a criação do mecanismo, os pesquisadores do CPI/PUC-Rio estudaram as florestas tropicais de 91 países, analisando as tendências de desmatamento, a cobertura florestal e as oportunidades de restauração em cada país. Juntos, os países possuem 1,27 bilhão de hectares de florestas tropicais e armazenam 593 GtCO2, aproximadamente 1/3 das emissões históricas de todo o mundo.   

Entretanto, apenas na última década, mais de 10 milhões de hectares foram perdidos, por ano, para o desmatamento. Para Assunção, isso revela não apenas a vulnerabilidade dessas áreas, mas também o tamanho da oportunidade: restaurar áreas desmatadas desde 2001 pode recapturar até 49 GtCO₂.  

“Precisamos agir agora para transformar as florestas tropicais em ativos climáticos duradouros. Enquanto adiarmos a ação, corremos o risco de perder essa oportunidade única de garantir a estabilidade climática e ecológica. Os incentivos criados a partir de mecanismos financeiros consistentes garantem compromisso político de longo prazo para que as florestas possam proporcionar a mitigação climática, a proteção da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável em uma escala que poucas soluções podem alcançar. O RDM oferece uma oportunidade financeira para a restauração em escala de ecossistemas tropicais.”, destaca Assunção.  

A um preço de carbono de US$ 50 por tonelada, o RDM pode gerar receitas com valor superior a US$ 5.000 por hectare para mais de 170 milhões de hectares de floresta. As florestas restauradas sob esse esquema poderiam remover até 2 GtCO₂ por ano globalmente nos primeiros anos de operação. A um valor de US$ 50 por tonelada, isso representa até US$ 100 bilhões em receitas anuais.   

No caso da Amazônia, o RDM reverteria o destino da floresta. Ao invés de emitir aproximadamente 16 GtCO₂ ao longo de 30 anos, a região poderia capturar 18 GtCO₂ através da regeneração natural em escala. Com um preço de carbono de US$ 50 por tonelada, que é um valor bem inferior à taxa atual de mercado, isso renderia cerca de US$ 30 bilhões anualmente.   

“A Amazônia tem contribuição relevante para as metas climáticas globais, e o financiamento climático pode gerar oportunidades econômicas para uma região que continua enfrentando desafios de desenvolvimento. A restauração florestal, quando associada à captura de carbono a um preço justo, é um uso da terra mais lucrativo para vastas áreas de pecuária de baixa produtividade.”, aborda Assunção.  

Como funciona o mecanismo  

Enquanto os mecanismos já existentes, como o REDD+ jurisdicional (JREDD+) e o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), focam em conter o desmatamento e preservar as florestas, o RDM cobre a lacuna atual de financiamento para restauração em escala. O mecanismo foi idealizado para compensar as remoções líquidas de carbono, isto é, o CO2 equivalente capturado por meio da restauração florestal, subtraindo as emissões provenientes do desmatamento, da degradação florestal e de atividades agropecuárias.   

O RDM é estruturado como um acordo bilateral entre um comprador (governo, instituição multilateral ou instituição privada) e uma jurisdição (um governo nacional ou subnacional).   

O mecanismo prevê pagamentos baseados em resultado. A cada ano, seria avaliado a quantidade de carbono capturado através do restauro, e os pagamentos seriam gerenciados através de fundos jurisdicionais. O fundo seria usado para a prevenção do desmatamento e degradação florestal, a proteção florestal e a restauração. Mas também gera recursos disponíveis para o desenvolvimento socioeconômico das populações afetadas.  

Implementação do RDM 

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Fonte: CPI/PUC-Rio, 2025 

“O RDM surge para somar esforços com os mecanismos de JREDD+ e TFFF na luta climática. Ao vincular o financiamento climático diretamente a resultados verificados de carbono, o RDM oferece um caminho escalável, transparente e eficiente para transformar florestas tropicais em ativos climáticos de alto impacto.”, comenta Assunção.   

Comparação do financiamento florestal: JREDD+, TFFF e RDM 

Assunção explica que o RDM é uma solução financeira sob medida que cria incentivos financeiros para a restauração florestal em grande escala e adaptada para atender as diferentes realidades das florestas tropicais em todo o mundo.   

“As florestas tropicais são um dos instrumentos mais poderosos e pouco aproveitados contra a mudança do clima. A restauração em larga escala pode transformar milhões de hectares degradados em ativos climáticos, mas isso só será possível se mobilizarmos financiamento robusto e de longo prazo. A COP30 é a oportunidade de consolidar uma arquitetura financeira capaz de mobilizar recursos internacionais à altura do potencial das florestas tropicais na agenda climática.”, conclui Assunção.   

Acesse o estudo na íntegra: bit.ly/NexoFlorestaClima

Sobre o Climate Policy Initiative  
O Climate Policy Initiative (CPI) é uma organização com experiência internacional em análise de políticas públicas e finanças, que possui sete escritórios ao redor do mundo. No Brasil, é afiliado à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e atua no aprimoramento de políticas públicas e finanças sustentáveis a fim de promover a transição para uma economia de baixo carbono. O CPI/PUC-Rio desenvolve análises baseadas em evidência e estabelece parcerias estratégicas com membros do governo, da sociedade civil, do setor privado e de instituições financeiras.  

Mais informações: 
Camila Calado Lima
camila.lima@cpiglobal.org 
(86) 99966-0560 

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