As florestas tropicais são uma das ferramentas mais poderosas, porém subutilizadas, contra as mudanças climáticas. Elas armazenam vastas reservas de carbono e oferecem um potencial excepcional para a captura de CO2 em larga escala por meio da regeneração natural. Mas, apesar dos sucessos comprovados em conservação e restauração, os esforços permanecem inconsistentes e vulneráveis a mudanças políticas e pressões dissonantes. A escala e a diversidade da agenda florestal exigem incentivos financeiros capazes de abordar três questões centrais: deter o desmatamento, proteger as florestas existentes e impulsionar a restauração em larga escala.
Embora o JREDD+ tenha fornecido uma estrutura reconhecida para reduzir o desmatamento e o recém-proposto TFFF busque proteger as florestas em pé, ainda existe uma lacuna crítica no financiamento climático em relação aos incentivos para a restauração florestal. O RDM pode preencher essa lacuna, servindo como um modelo para mecanismos que recompensam jurisdições pela restauração de ecossistemas. Ao gerar créditos de captura de carbono, o RDM apoia diretamente a mitigação climática, fortalece a resiliência das florestas tropicais, salvaguarda a biodiversidade e reduz os riscos de ultrapassar pontos de não retorno ecológicos.
Baseado em pagamentos jurisdicionais por resultados, o RDM é escalável, adaptável e projetado para funcionar em conjunto com os mecanismos existentes. Dessa forma, os projetos jurisdicionais e baseados em resultados do JREDD+, TFFF e RDM se fortalecem mutuamente, proporcionando uma arquitetura financeira flexível e sob medida para as florestas. Ao conectar incentivos financeiros a resultados mensuráveis de restauração, o RDM demonstra como mecanismos bem estruturados podem transformar compromissos internacionais em ações concretas.
É importante ressaltar que o RDM opera dentro de um regime florestal internacional consolidado, com base em décadas de acordos, convenções e iniciativas multilaterais. As orientações recentes do primeiro Balanço Global na COP28 já orientaram os países a interromper e reverter o desmatamento, destacando a necessidade urgente de mecanismos como o RDM. Análises do CPI/PUC-Rio confirmam que o RDM pode não apenas contribuir substancialmente para a mitigação climática, mas também gerar receitas substanciais para países com florestas tropicais.
A COP30, a ser realizada na Amazônia, representa uma oportunidade única para colocar o financiamento florestal no centro da ação climática global. Ancorar a ambição climática internacional na maior floresta tropical do mundo pode catalisar o compromisso político e direcionar recursos para os países mais bem posicionados para restaurar as florestas em larga escala.
Se adotada, essa abordagem pode transformar as florestas tropicais em ativos climáticos duradouros, aumentando o sequestro de carbono, reduzindo o desmatamento, protegendo a biodiversidade e apoiando as comunidades que dependem da floresta. No entanto, o tempo para ação está se esgotando. Mobilizar vontade política, recursos financeiros e parcerias intersetoriais é essencial para destravar todo o potencial climático, ecológico e econômico das florestas tropicais.