Estudo indica que 31% dos recursos mapeados para florestas ainda não foi contratado ou desembolsado.
Às vésperas da COP30, estudo inédito do Climate Policy Initiative/PUC-Rio (CPI/PUC-Rio) identifica que mecanismos internacionais somaram US$ 25,9 bilhões em recursos planejados, contratados e desembolsados para florestas. Pesquisadores destacam que financiamento florestal é oportunidade decisiva para o combate às mudanças climáticas, mas ainda subaproveitada.
O estudo analisa 30 mecanismos internacionais que financiam objetivos florestais em todo o mundo. A análise surge para subsidiar os esforços do grupo Unidos por Nossas Florestas de deter o desmatamento, acelerar a restauração, promover o manejo florestal sustentável e buscar apoio financeiro dos países desenvolvidos. O grupo é composto por 20 países em desenvolvimento que reúnem quase dois terços das florestas tropicais do mundo.
“Compreender as florestas tropicais como parte das soluções climáticas é essencial para enfrentar a crise climática. Para liberar todo o potencial das florestas, o PNUMA estima que sejam necessários US$ 66,8 bilhões anuais até 2030. Os investimentos nas florestas estão crescendo, mas precisamos intensificá-los, adaptá-los às realidades dos países tropicais e garantir a qualidade do financiamento.”, afirma Juliano Assunção, diretor executivo do CPI/PUC-Rio. Dez dos 30 mecanismos financeiros mapeados já apresentam um tamanho igual ou superior a US$ 1 bilhão.
Atores
Pesquisadores identificaram distintos atores responsáveis pelo desembolso e gestão de capital, como fundos multilaterais e mistos, organizações multilaterais, governos, governos bilaterais e atores privados.
Os fundos multilaterais e os governos se destacam já tendo desembolsado US$ 7,7 bilhões e emitido US$ 5,5 bilhões.
O estudo mostra que 31% dos valores totais dos mecanismos financeiros ainda não foram emitidos ou desembolsados. No caso dos fundos mistos e dos atores privados, mais da metade do financiamento ainda precisa ser mobilizado, correspondendo a 57% e a 88%, respectivamente.
“Apesar de verificarmos um investimento global relevante, suprir a lacuna de financiamento florestal exige um compromisso também dos fundos previstos, mas ainda não desembolsados.”, ressalta Joana Chiavari, diretora de pesquisa do CPI/PUC-Rio.
Objetivos florestais
Dentre os 30 mecanismos financeiros analisados, quinze possuem foco exclusivo em um dos três pilares da agenda florestal: conservação (US$ 2,6 bilhões), restauração (US$ 2,2 bilhões) e redução do desmatamento (US$ 1,3 bilhão).
Já os outros quinze mecanismos são destinados a objetivos múltiplos. Dentre eles, dez possuem objetivos duplos, somando US$ 8,3 bilhões. Os cinco restantes têm como meta os três objetivos, o que resulta em US$ 11,4 bilhões.
O estudo identifica que os governos ocupam papel central no financiamento voltado à conservação, principalmente por priorizar o apoio a comunidades tradicionais. Pesquisadores explicam que isso está relacionado ao fato de os mecanismos voltados à conservação enfrentarem desafios maiores para gerar receitas diretas.
Na restauração, há um apoio predominante de atores privados e de fundos mistos voltado aos mecanismos exclusivamente focados nesse objetivo. As atividades de restauração podem ser associadas a atividades produtivas, como agricultura sustentável, o que estimula a adesão do setor privado a partir de modelos de receita mais definidos.
O valor total investido ou planejado no combate ao desmatamento é significativamente menor em relação aos outros dois objetivos. O financiamento é apoiado por organizações multilaterais e governos bilaterais.
“Preencher a lacuna de financiamento florestal envolve ampliar a escala dos mecanismos existentes e complementá-los com mecanismos inovadores numa abordagem abrangente, incluindo, por exemplo, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) e o Mecanismo de Reversão de Desmatamento (RDM), recém-desenvolvido pelo CPI/PUC-Rio”, explica Assunção.
Instrumentos financeiros
Os mecanismos financeiros empregam uma combinação de distintos instrumentos, desde ferramentas mais tradicionais até mais inovadoras, para alcançar os objetivos florestais. Três instrumentos se destacam: crédito, doações e pagamentos baseados em resultados.
“A variação nos instrumentos reflete como cada ator mobiliza estratégias financeiras com base em seus mandatos específicos, apetite pelo risco e capacidades operacionais. A forte dependência do crédito indica grande alinhamentos dos instrumentos tradicionais com os objetivos climáticos. O uso de doações e pagamentos baseados em resultados mostram a relevância dos atores públicos no financiamento de florestas.”, aponta Chiavari.
Escopo geográfico
O estudo analisa ainda o escopo geográfico dos mecanismos financeiros. Dos 30, quase metade (48%) é acessível globalmente, 28% operam em âmbito nacional e 24% em âmbito regional ou multinacional.
“A arquitetura financeira florestal necessita de uma melhor correspondência entre os investimentos e as necessidades específicas de cada país. A compreensão aprofundada sobre as distintas realidades é importante para que novas oportunidades sejam identificadas e que iniciativas bem-sucedidas sejam ampliadas e replicadas em outras localidades.”, aborda Assunção.
A América Latina se destaca com o maior acesso aos mecanismos mapeados. O Brasil e a Guiana são os países com maior acesso, totalizando 24 e 19 mecanismos, respectivamente.
Apenas três dos países com maior potencial de captura de carbono são elegíveis para uma parcela grande dos mecanismos identificados: Brasil, Camarões e Colômbia.
“Esse cenário revela um potencial inexplorado entre os países com amplas áreas florestais e, ao mesmo tempo, um grande potencial de restauração em razão do histórico de desmatamento. Expandir o acesso dos países com grande potencial de captura de carbono é essencial para alcançar resultados em escala.”, diz Chiavari.
COP30 e financiamento para florestas
Às vésperas da COP30, o estudo chama atenção para a necessidade de aumentar a transparência sobre o financiamento florestal, apontando que as informações atuais estão dispersas e de difícil acesso público.
“O acesso às informações de financiamento é fundamental para compreender o contexto atual em sua totalidade, identificar lacunas e oportunidades. Outro ponto é estreitar a coordenação de atores públicos, privados e filantrópicos para que os investimentos florestais sejam alinhados às necessidades específicas de cada país com floresta tropical.”, finaliza Assunção.
Acesse o estudo na íntegra: bit.ly/MenuMecanismosFinanceiros
Sobre o Climate Policy Initiative
O Climate Policy Initiative (CPI) é uma organização com experiência internacional em análise de políticas públicas e finanças, que possui sete escritórios ao redor do mundo. No Brasil, é afiliado à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e atua no aprimoramento de políticas públicas e finanças sustentáveis a fim de promover a transição para uma economia de baixo carbono. O CPI/PUC-Rio desenvolve análises baseadas em evidência e estabelece parcerias estratégicas com membros do governo, da sociedade civil, do setor privado e de instituições financeiras.
Mais informações:
Camila Calado Lima
camila.lima@cpiglobal.org
(86) 99966-0560
