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Colunistas

Educação e trabalho

Sem rumo na Amazônia

Por Beto Veríssimo e Juliano Assunção*

Um dos maiores desafios na Amazônia é oferecer oportunidades aos jovens. Em 2019, cerca de 40% da população entre 25 e 29 anos na região estava fora do mercado de trabalho. Não estavam ocupados. Nem procuravam emprego. Na pandemia, a situação se agravou ainda mais. A falta de oportunidades se reflete na escola. A evasão escolar no ensino médio na Amazônia é maior do que no resto do país, segundo um estudo realizado para o projeto Amazônia 2030. Também é mais comum jovens cursando o ensino médio fora da idade esperada. E mais alta a busca por Educação de Jovens e Adultos (EJA), um reflexo de oferta reduzida de vagas em escolas na zona rural, altas taxas de analfabetismo e reprovação.

Com baixa escolaridade, poucas chances de emprego, agronegócio com postos de trabalho em queda e muitos jovens perdendo a vida em garimpos ilegais, a região observa a fuga de suas poucas lideranças na mesma proporção do aumento da violência. A taxa de homicídio cresce em comparação ao resto do Brasil. Segundo outro estudo também do Amazônia 2030, a região, que não tinha altos índices de violência até o fim da década de 1990, se tornou uma das mais perigosas do mundo. Se a Amazônia fosse um país, ocuparia a quarta posição em homicídio, atrás apenas de El Salvador, Venezuela e Honduras.

Não podemos perder tempo. A Amazônia vive um período denominado de bônus demográfico, em que a população jovem e adulta tem uma proporção favorável em relação à capacidade de geração de renda e crescimento econômico. Isso significa que a região vive seu período mais promissor em relação à dinâmica populacional. Mas, na ausência de oportunidades (educação de qualidade e emprego) e num cenário de aumento da violência e do crime organizado, esse bônus pode se tornar um ônus.

Há alguns caminhos. Primeiro, diante dos desafios logísticos da região, o gasto por estudante precisa ser maior para garantir um mesmo nível de qualidade na educação que o resto do país. Segundo, devemos oferecer cursos profissionalizantes atrativos, como oficinas de empreendedorismo, aproveitando as cadeias produtivas da região. Existem evidências de que os negócios associados a produtos florestais sustentáveis podem criar oportunidades promissoras, conectadas com vantagens comparativas naturais da região. Já há produtores operando com qualidade suficiente para romper as barreiras da exportação, capital disponível para investimento e mercados internacionais capazes de absorver nossos produtos.

Podemos, inclusive, explorar melhor o potencial da Zona Franca de Manaus para catalisar a economia da floresta. A Amazônia pode criar oportunidades no mercado global e impulsionar o crescimento econômico não só na região, mas também no resto do país. Tudo isso aproveitando nosso recurso natural mais precioso: os jovens.

*Coordenadores do projeto Amazônia 2030

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