Míriam Leitão
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GERADO EM: 08/01/2025 - 13:43

Bancos americanos abandonam aliança climática: oportunidade para o Brasil na COP 30

A saída de grandes bancos americanos da Net-Zero Banking Alliance é criticada por Juliano Assunção, da PUC-Rio, como um retrocesso na governança global para o clima. Apesar do impacto político, a análise de riscos climáticos no setor financeiro não deve ser abandonada. A postura dos EUA abre espaço para o Brasil liderar uma agenda climática global, aproveitando sua posição geopolítica e histórico ambiental. A COP 30 representa uma oportunidade para o país apresentar um modelo de desenvolvimento sustentável.

A debandada de grandes bancos americanos do Net-Zero Banking Alliance, no apagar das luzes de 2024, pode não ter grande impacto nos negócios, já que mudanças climáticas estão definitivamente incorporadas às análises de risco das instituições financeiras. O retrocesso político, no entanto, é grande, avalia Juliano Assunção, diretor-executivo do Climate Policy Initiative (CPI) da PUC-Rio, organização com experiência internacional em análise de políticas públicas e finanças, com sete escritórios ao redor do mundo. O fato de Goldman Sachs, Wells Fargo, Citigroup, Bank of America e Morgan Stanley cederem a pressão política dos Republicanos, manda um recado ruim para o resto do mundo e enfraquece uma agenda institucional global, que anda a passos lentos, e mostra avanços mais significativos nos últimos tempos, justamente no setor financeiro, pontua o economista:

- ⁠Há uma falha na agenda global do clima, estamos muito atrasados. Não há hoje controle de emissões necessário para deter os efeitos da mudança climática. Essa aliança (a Net-Zero) criou um diálogo global sobre a incorporação do sistema financeiro no processo de transição para economia de baixa emissão de carbono. Não acredito que os bancos individualmente vão abandonar a análise dos riscos climáticos, isso faz parte do negócio, enxergo esse movimento como político. Institucionalmente, no entanto, o efeito é relevante, estamos falando de empresas globais que teriam como resistir à pressão política. Isso é danoso do ponto de vista de criar uma governança global para lidar com o clima.

Para Assunção, apesar de já serem visto efeitos perversos para a agenda global da eleição de Donald Trump para a presidência americana, ainda é cedo para dizer qual será, de fato, o tratamento que será dado pelo governo às questões climáticas. Não se trata de uma questão ideológica, Trump já deixou claro ser um negacionista, mas há a pressão dos negócios. Grandes apoiadores de campanha do Republicano, como o bilionário Elon Musk, vêm investindo pesado em projetos que voltados à transição para a uma economia de baixo carbono, caso dos carros elétricos produzidos pela Tesla.

- ⁠No último governo Trump, vimos entes subnacionais subvertendo a orientação e andando em direção a uma agenda climática - ressalta o executivo.

Juliano Assunção é professor de Economia da PUC-Rio e diretor executivo do CPI/PUC-Rio — Foto: Divulgação
Juliano Assunção é professor de Economia da PUC-Rio e diretor executivo do CPI/PUC-Rio — Foto: Divulgação

Na avaliação do economista, a posição americana abre espaço político para o governo brasileiro ter um maior protagonismo na articulação global de uma agenda climática.

- O Brasil tem uma posição privilegiada, geopolítica e uma diplomacia competente, sem falar no histórico incontestável de protagonismo ambiental. O Brasil pode apresentar um projeto de desenvolvimento econômico que passe por uma transição para uma economia de baixo carbono. O projeto apresentado pelo governo no ano passado foi um passo, mas é preciso uma implementação efetiva. E não precisa reinventar a roda para isso, há três claras alternativas de atração do investimento para o país. A nossa matriz energética limpa pode atrair setores de alto consumo de energia como cimento, siderurgia, IA. Podemos aumentar a nossa produção de alimentos, sem colocar em risco as florestas, há uma ocupação improdutiva no país. Fora isso, o reflorestamento tem um enorme potencial de captura de carbono, o que atrai também investimento - enumera Assunção.

A COP 30 é uma oportunidade de o país mostrar uma alternativa de desenvolvimento que pode ser viável não só para o Brasil, mas para uma série de outras nações emergentes, que concentram grandes áreas verdes do planeta, cuja manutenção é fundamental para conter as mudanças climáticas, e que vão precisar de um novo modelo para alcançar o desenvolvimento.

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