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0 financiamento climático cresce, mas ainda é baixo. No biênio 2021/2022, os recursos somaram, em média, quase US$ 1,3 trilhão/ano, o dobro dos US$ 653 bilhões/ano de 2019/2020, estima a organização de pesquisa e consultoria sem fins lucrativos Climate Policy Initiative (CPI). Contudo, “para atingir metas de sustentabilidade e zero emissões líquidas em todo o mundo, seriam necessários investimentos anuais de US$ 5 trilhões a US$ 7 trilhões até 2050”, sustenta a organização no relatório “Panorama Global de Financiamento Climático”, de novembro do ano passado.
Além do hiato, a distribuição é desigual: 84% dos recursos foram para países desenvolvidos do Leste Asiático e Pacífico, Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental, e menos de 2% restaram para os dez países mais afetados pelas mudanças climáticas entre 2000 e 2019. O financiamento para mitigação abocanhou quase tudo — US$ 1,15 trilhão, dos quais energia captou 44% e transportes, 29%. Já indústria e agricultura, com potencial muito maior de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), ficaram com menos de 4%.
Os recursos para adaptação cresceram 28%, para US$ 63 bilhões — menos de um terço dos US$ 212 bilhões/ano que a CPI estima necessários até 2030, só para os países em desenvolvimento. Agricultura, florestas e outros usos da terra, setor crítico pela vulnerabilidade e necessidade de adaptação, receberam apenas US$ 7 bilhões (11%).
Como agropecuária e desmatamento emitem quase três quartos de GEE no país, o uso da terra foi o tema do Panorama 2021/2023 do CPI/PUC-RJ, que registrou expansão de 145% do financiamento climático, à média anual de R$ 88,1 bilhões, ante R$ 36 bilhões/ano entre 2015 e 2020. Mérito do crédito rural, o instrumento com maior volume de financiamento climático para uso da terra no país: R$ 50,8 bilhões/ano, em média, no período. O estudo dos pesquisadores Joana Chiavari, Priscila Souza e Miguel Motta ressalta que, apesar de o Plano Safra ser importante indutor de recursos com critérios ambientais e de sustentabilidade, aquele valor (R$ 50,9 bilhões) representou só 15,5% do total de R$ 328,1 bilhões/ano das operações de crédito rural no período.
Não é surpresa que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco do Brasil (BB)Cotação de Banco do Brasil (BB) liderem o financiamento de atividades sustentáveis. O BNDES facilita recursos para linhas de crédito voltadas à sustentabilidade do agro e ainda conta com R$ 10,4 bilhões no Fundo Clima, que desde março já alocou R$ 3,4 bilhões em projetos de redução de GEE e adaptação. Até 2026, o banco deve desembolsar R$ 32 bilhões do Fundo Clima. O BNDES também administra o Fundo Amazônia, que desde 2008 destinou R$ 2,5 bilhões a 114 projetos.
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A Caixa, por sua vez, administra o Fundo de Compensação Ambiental (FCA), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e opera linhas de crédito dos programas do Ministério das Cidades com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para Estados e municípios empregarem em saneamento e infraestrutura urbana.
Principal financiador da agropecuária, o BB registra um saldo de crédito sustentável superior a R$ 360 bilhões (cerca de um terço da carteira total), sendo que o portfólio de agricultura de baixo carbono bateu R$ 59,9 bilhões no primeiro semestre do ano e em torno de R$ 2,3 bilhões para recuperação de áreas degradadas.
Para o vice-presidente de negócios, governo e sustentabilidade empresarial do BB, José Ricardo Sasseron, a expansão do crédito sustentável demanda menores custos, capacitação, assistência técnica e estruturação de cadeias produtivas. Já Marcelo Pasquini, diretor de sustentabilidade do BradescoCotação de Bradesco, maior financiador privado do agro e que em maio atingiu R$ 250 bilhões em negócios sustentáveis, destaca a importância do comprometimento dos governos para que as empresas se planejem para aproveitar oportunidades e gerenciar riscos da transição.
Ambos ressaltam a necessidade de melhor avaliação e precificação de ativos, instrumentos financeiros inovadores e adequação de marcos regulatórios, além da cooperação mais estreita com organismos internacionais, como o Banco Mundial, que neste ano destinou US$ 9,1 bilhões para financiamento climático a entes privados mediante a International Finance Corporation (IFC), segundo o diretor para América do Sul da instituição, Manuel Reyes-Retana. “No Brasil, nos últimos dois anos, cerca de 58% dos nossos novos investimentos são classificados como financiamento climático”, ressalta ele, indicando que a IFC busca promover a adaptação e a mitigação climática via parcerias, como o Pactual Timberland Investment Group, braço do BTGCotação de BTG Pactual para fomentar o reflorestamento na América Latina. A IFC também introduz novos instrumentos financeiros, como os “sustainability-linked loans”, em que os juros diminuem se o tomador cumpre metas ambientais e/ou sociais, a exemplo da NaturaCotação de Natura, Afya e Neoenergia Elektro.
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Tal abordagem ajudaria a reduzir custos do financiamento climático em até US$ 50 trilhões, até 2050, calcula a consultoria Deloitte no estudo Financing Green Energy Transition. “Antes, os bancos de desenvolvimento seguiam uma estratégia de investir no projeto do começo ao fim, chamada ‘originate and hold’. Agora, estão adotando a estratégia chamada ‘originate and distribute’”, explica Luiz Paulo Pereira Assis, sócio responsável por finanças sustentáveis da Deloitte. Ou seja, esses bancos entram no projeto, reduzem os riscos iniciais e depois o compartilham com o mercado.
O financiamento do complexo de energia solar de 531 MW de Mendubim, em Assu (RN), é um exemplo de inovação na captação entre entes públicos e privados. A empresa de energia renovável norueguesa Scatec tomou US$ 243 milhões junto ao BID Invest, Santander e BNP Paribas, em novembro de 2022. As sócias também norueguesas Hydro e Equinor aportaram os US$ 187 milhões restantes, tendo como base um acordo de compra de energia, de 20 anos, pela Alunorte, que investiu 10% no complexo a partir da entrada em operação comercial do projeto, em março de 2024, de modo a se enquadrar como autoprodutor de energia.
“O acordo foi inovador ao prever o financiamento em dólares, algo inédito, considerando uma estrutura de autoprodução, e o financiamento em dólar mais longo já realizado para projetos de renováveis no Brasil”, relata Deborah Canongia, vice-presidente para novos negócios Latam da Scatec.
“Podemos ser mais eficazes e gerar maior impacto desempenhando um papel mais ativo como intermediário nos mercados financeiros, por exemplo, criando ferramentas financeiras inovadoras”, assinalam o chefe da divisão de mudança climática do BID, Graham Watkins, e sua colega do IDB Invest Hilen Meirovich, acentuando que a mobilização do setor privado é crítica para atender às necessidades de financiamento da América Latina e Caribe, da ordem de US$ 470 bilhões a US$ 1,3 trilhão. Em 2023, o BID Invest facilitou US$ 3,1 bilhões em financiamento climático de longo prazo.
Outro exemplo de inovação é o programa do Santander para fornecedores da dinamarquesa Vestas Energia Eólica, chamado Sustainability-Linked Confirming, com melhores condições de antecipação de recebíveis quanto melhor for o desempenho do fornecedor, de acordo com 21 critérios de sustentabilidade apurados pela empresa internacional de avaliação EcoVadis. É um projeto-piloto dentro da carteira de R$ 32,9 bilhões líquidos (descontadas amortizações) do banco, dado que ainda não existe um modelo que consuma menos capital da instituição — em termos das exigibilidades regulatórias — e/ou fontes de captação diferenciadas. “Mas a boa notícia é que, três anos atrás, nem sabíamos que queríamos fazer isso. Agora, já sabemos”, salienta Esther Unzueta, responsável pela área de finanças sustentáveis do Santander.
Um projeto-piloto também marca o início da mesa de crédito de carbono do banco ABC Brasil, que está viabilizando a neutralização das emissões de carbono do financiamento da renovação da frota de caminhões de uma transportadora. “Emissões financiadas são consideradas as mais relevantes na operação de instituições financeiras, por isso essa mensuração está sendo a base da nossa estratégia de descarbonização, permitindo conectar os clientes mais intensivos em carbono a soluções que os impulsionem à transição para uma economia de baixo carbono”, diz a head de ESG, Fabiana Silva.